03/05/07

fotos do fogo | aviso de mobilização

Passaram pelo meu nome e eu era um número - menos que a folha seca de um herbário. Colheram-no com mãos de zelo e gelo; escreveram-no, sem mágoa, num postal. Convite a que morresse... mas por quê? Convite a que matasse... mas por quem? Ó vago amanuense, ó apressado e súbito verdugo, que te ocultas numa rubrica rápida, ilegível, que dirás tu do meu e de outros nomes, que dirás tu de mim e de outros mais, no Dia do Juízo já tão próximo - que dirás tu de nós, se nem tremeu, na rápida rubrica, a tua mão? Bem sei que a tua mão só executa; mas para além do ombro a ti pertences. Bem puderas chorar, ter hesitado... - A mancha de uma lágrima bastara para dar um sentido a esta morte a que a tua indiferença nos convoca!

(David Mourão Ferreira)

1 comentário:

  1. Ricardo:

    Escolheste um tema de qualidade ímpar que permite cotejar com a tua própria ousadia.Sou apaixonado pela época de Salazar, Marcello Caetano, dos Comunistas e os seus Comités, de Zeca Afonso e os seus camaradas de intervenção, do MFA... Enfim, foi bem escolhido o mote para mais uma aventura teatral... Já estou a pensar nisso...

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